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IGREJA CATÓLICA

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PRÉ-HISTÓRIA UPANEMENSE

Desde há muito tempo este território foi habitado, provavelmente tendo chegado os primeiros índios a esta região no período Formativo da pré-história da América.
O município de Upanema possui atualmente dois sítios arqueológicos catalogados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como também pelo NEA (Núcleo de Estudos Arqueológicos) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. São os sítios de Umarí e do Riacho Fundo.
No sítio de Umarí foram encontradas gravuras rupestres na “Pedra do Sino” (tem esse nome devido ao som que é emitido ao se bater nela com algum objeto), sendo difícil à identificação de suas figuras, isto porque além da degradação natural, esse local tem sido alvo de “vândalos”, o que se constitui uma verdadeira ameaça contra o nosso patrimônio histórico e sendo este um dos fatores que estão contribuindo para o desaparecimento dessas pinturas. O grau de integridade das figuras está em cerca de 25% de acordo com o NEA. As figuras se encontram em formações rochosas soltas no meio da caatinga, em uma propriedade particular, e localizadas bem próximas ao rio Upanema.
Em relação ao outro sítio arqueológico, o do Riacho Fundo, as pinturas se encontram, de certa forma, protegidas pela própria natureza visto que o local é de difícil acesso, mas ainda sim exposto à decomposição por fatores naturais como sol, chuva e etc. As pinturas estão localizadas no chamado “Serrotão” (uma formação rochosa com cerca de 100 metros de altitude no meio da caatinga). O sítio também está localizado em uma propriedade particular, bem próximo à barragem de Umarí. Ainda segundo o NEA, o grau de integridade dessas gravuras varia entre 25% e 75%. Próximo ao Serrotão, onde são encontradas as principais gravuras, existem outras formações rochosas que também contêm gravuras, mas, em menor número.
Os motivos da arte rupestre são em geral, bastante variados. Alguns grupos utilizaram o motivo geométrico que representa traços, círculos etc., como é o caso do sítio Santa Maria, que esta no território de Campo Grande, no limite com Upanema. Lá encontramos vários pontos feitos na pedra representando possivelmente uma espécie de calendário. Existe também o chamado motivo figurativo que representam animais, pessoas, objetos etc.
No sítio Riacho Fundo, encontramos tanto os motivos geométricos como o figurativo que aparece em maior número. Essas gravuras são bem legíveis, destacando-se uma espécie de barco, figuras humanas e também de animais além de muitos símbolos não identificáveis. (Ver anexos, figuras 1, 2 e 3)
Não se sabe ao certo quem são os autores dessas gravuras rupestres nem as datas em que foram feitas. O mais provável é que, devido à diferença de gravuras e estilos, vários grupos as tenham feitas ao longo de centenas ou quem sabe milhares de anos. A se ter uma idéia, os sítios de Umarí, Riacho Fundo e Santa Maria se encontram relativamente próximos uns dos outros, mas em nenhum encontramos gravuras semelhantes. Uma outra possibilidade que vem sendo levantada é sobre terem sido os índios os autores de algumas delas, pois demonstram terem menos de quinhentos anos. Isto só poderá ser esclarecido somente com maiores pesquisas.
É importante destacar que se faz necessário nesses sítios arqueológicos uma preservação sistemática e também preventiva. Não podemos deixar que este nosso patrimônio histórico seja dilapidado. Para isso, uma alternativa viável seria o desenvolvimento do potencial turístico desses sítios arqueológicos visto que, devido à proximidade dos sítios com a Barragem de Umarí, pode-se, facilmente, elaborar um bom roteiro turístico e transformar Upanema em um ponto turístico da região, como acontece em outras cidades. Para isso, precisa-se de políticas públicas voltadas para a preservação destes sítios, caso contrário, eles serão destruídos.
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Chega o homem branco: o Curral da Várzea e a Rua da Palha

A fixação dos primeiros povoadores brancos em Upanema é, portanto, igual modo, fruto dá expansão, no século XVIII, da pecuária extensiva que vai colonizar o sertão do nosso Estado. É aí que sesmeiros e posseiros vão passar a residir por estas terras, graças ao ciclo do gado. Exemplo disso são os topônimos que ainda hoje dão nome a várias cidades e localidades do Estado como Currais Novos, Pau dos Ferros, Campo Grande e a primeira denominação que Upanema vai receber: o chamado Curral da Várzea, demonstrando claramente a importância da pecuária na região. “Assim, ao fechar-se o século XVIII, todo o território da capitania do Rio Grande estava povoado pelos colonizadores e as bases de sua estrutura econômica, social e política haviam sido implantadas”. (MONTEIRO, 2002, P. 121).
Com o crescimento do povoado, apesar de muito lento, também foi se descobrindo pelos moradores a utilidade de um outro produto muito abundante na região, a carnaúba (copernicia cerifera) que com sua palha e madeira eram feitos os telhados de suas casas. Os moradores por sua vez, sempre homenageando o que aparentemente lhe ajuda, passam a chamar a povoação de Rua da Palha. É preciso que esqueçamos o que entendemos hoje em dia por rua, pois não condiz com a histórica Rua da Palha que nada mais era do que algumas casas, de certa forma distantes umas das outras, mas alinhadas, o que a época já era considerada uma rua, pois de uma casa dava para ver a outra.
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Primeiros habitantes: os índios

Os primeiros habitantes da região que hoje corresponde ao município de Upanema foram os índios tapuias (de língua travada), da nação dos Tarairius e da tribo Pegas. Os tapuias habitavam o interior de praticamente todo o nordeste, desde a Bahia até os sertões de estados como Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Dividiam-se em várias tribos e grupos.

“Os mais abalizados estudos apresentam como tendo pertencido ao grupo TARAIRIÚ, as seguintes tribos tapuias, muito citadas em nossa historiografia nordestina do período colonial: JANDUÍS, ARIÚS, ou PEGAS (liderados pelo “rei” Pecca), SUCURUS, CANINDÉS, JENIPAPOS, PAIACUS, PANATIS, JAVÓS, CAMAÇUS, TUCURIJUS, ARARIÚS, COREMAS”. (MEDEIROS FILHO, 2003, p. 41).

Outros nomes também são atribuídos aos nossos Pegas como Ariús, Ariás, Uriús e Ária. Eles habitavam desde as imediações do Vale do Açu até o Seridó. Há relatos de passagem dos Pegas também por cidades da Paraíba como Catolé do Rocha, Pombal e Patu que pertencia a Paraíba.
Baseado em antigos cronistas, Olavo de Medeiros Filho faz uma descrição apurada da aparência física dos tapuias e alguns de seus usos e costumes. Segundo ele:

“...Aqueles tapuias eram muito robustos, dotados de incrível força física. Possuíam uma cor atrigueirada, “um espessa pele bruna”. As mulheres eram consideradas bonitas de cara apresentando-se gordas e grossas. O olhar selvagem dos tapuias impressionava os cronistas. Possuíam as cabeças grandes e largas.....Em tais cabeças, encontra-se a origem dos “cabeças chatas” nordestinos.... seus cabelos eram pretos, espessos e ásperos..... Andavam inteiramente nus; apenas os homens atavam um cendal às suas partes genitais, e as mulheres usavam uma espécie de avental em torno dos quadris, confeccionado de folhas frescas. Os tapuias pintavam-se à maneira dos demais silvícolas: com tintas extraídas do jenipapo e do urucu. Portavam lindas penas de aves, introduziam ossos, penas, pedras e pedaços de madeira nas orelhas, narizes, bochechas e lábios. Calçavam sandálias, feitas da casca de uma árvore chamada caraguatá. Depilavam-se, inclusive as sobrancelhas”. (MEDEIROS FILHO, 2003, P. 41-42).

Alguns historiadores também relatam que os tapuias praticavam o endocanibalismo que é a antropofagia praticada com relação aos membros do próprio grupo, mas também eram adeptos da antropofagia para com os inimigos. Quando algum dos seus adoecia, eles sabiam utilizar as ervas medicinais que retiravam da natureza para tentar a cura, mas se esta não fosse possível, eles se despediam do doente e o matavam. Não escapava nada do cadáver, tudo era devorado com apetite voraz: além da carne, os ossos e até os cabelos eram comidos. O básico da alimentação desses índios era a caça e pesca além da extração ou coleta de produtos naturais não cultivados como o mel, raízes e ervas. Quando uma mulher dava a luz, era cozido o umbigo e a placenta e depois comidos. Caso desse a luz a uma criança morta, esta também servia de alimento.
Os nossos índios eram também adeptos da poligamia, ou seja, tinham mais de uma mulher ao mesmo tempo, chegando alguns, a terem mais de cinqüenta.
Por sua vez, devido à aspereza da vida nos sertões, as constantes guerras, sejam contra o homem branco ou contra tribos rivais, as crianças tinham que se adaptar rapidamente ao ambiente. Por isso, as crianças começavam a andar por volta dos dois meses de idade. É ainda nesse período que vão aprender a nadar, sendo jogados na água! Treinados desde muito cedo, os tarairiús eram temidos até mesmo pelas outras tribos devido a sua ferocidade sem igual. “Os tarairiús igualavam-se às feras, na velocidade do correr, atividade a que podiam se dedicar um dia inteiro. Às vezes, carregavam sobre os ombros um tronco de carnaúba, correndo com o mesmo três ou quatro léguas sem descansar”. (MEDEIROS FILHO, 2003, P. 47).
Não usavam o arco e flecha e sim, dardos envenenados lançados com uma espécie de canudo, e com o menor arranhão em seus oponentes vinham a causar a morte. Outra arma que utilizavam era um tipo de tacape, um pau pesado, mais grosso em uma das extremidades. No período da Guerra dos Bárbaros ou Guerra do Açu, a relatos de índios utilizando já armas de fogo. (ver figuras 4 e 5).
De um modo geral, os índios eram nômades, ou seja, não tinham moradias fixas. Isto descarta a antiga história difundida em nosso município que eles habitavam a Baixa das tropas, hoje sítio Lagoa Vermelha. Se eles habitaram lá, foi por um breve período de tempo pois, como eles não tinham moradias fixas eles andavam por toda a região, se prendendo por um curto período de tempo onde as condições fossem mais propícias, ou seja, locais que tivessem abundância de caça, pesca e extrativismo como a coleta de mel, frutos e raízes, visto que eles não praticavam regularmente a agricultura. Isso pode ser facilmente explicado pelas intempéries do clima da região, sempre sujeito a secas, o que os obrigava a uma constante busca de água e alimentos.

“...Não tinham aldeias nem casas ordenadas, passando a vida completamente ao ar livre. Mudavam frequentemente de acampamento, ao sabor das contingências alimentares. Os tapuias evitavam as marchas noturnas, com medo de cobras e serpentes, somente iniciando suas viagens após haver o sol desfeito o orvalho dos campos. Nos meses de novembro, dezembro e janeiro, quando o caju começava a madurecer, eles vinham para o litoral, pois eram raros os cajueiros no sertão....... Os tarairiús levantavam ramadas, em forma de um V invertido, com a finalidade de servirem de abrigo contra o sol ardente ou a chuva. À noite faziam imensas fogueiras, ao longo das quais estendiam suas redes para se aquecerem.... Quando acampados, procuravam iniciar o dia com um banho de rio, após o que esfregavam-se com areia grossa, banhando-se novamente em seguida..... Por ocasião das mudanças de acampamento, tomavam a medida de atear fogo ao mesmo......As mulheres e crianças transportavam as armas, as bagagens e os trastes...... Chegando ao local destinado ao novo acampamento, iam os tapuias cortar arvores, cravando os galhos e ramagens à beira dos rios para desfrutarem da sombra. Os homens saiam a apanhar peixes, ou para a caça e recolher o mel silvestre, enquanto as velhinhas dedicavam-se ao fabrico da farinha e seus pães. As mulheres cuidavam das lides culinárias, preparando as comidas e bebidas”. (MEDEIROS FILHO, 2003, P. 48-49).

Com o desenvolvimento da pecuária extensiva e sua expansão para o sertão da província, o Tapuia, que era temido pelo homem branco devido a sua ferocidade, força e velocidade, se tornou um empecilho para a colonização e o incremento dos criatórios de gado, haja vista que os índios não aceitavam facilmente a presença dos brancos.
Era preciso desocupar o território, pois:

“O gado bovino era essencial para os engenhos açucareiros da Zona da Mata nordestina: além de fornecer alimento para a população que se concentrava na faixa litorânea, era a força motriz dos primitivos engenhos. Como as terras dessa faixa eram ocupadas preferencialmente com a lavoura da cana-de-açúcar, fonte da riqueza de então, a criação de gado foi se interiorizando cada vez mais e acabou se tornando a principal atividade econômica das terras secas situadas sertão adentro”. (MONTEIRO, 2002. Pág. 100)

Os índios estavam causando danos, matando os colonizadores e vaqueiros da mesma forma matando o gado que pensavam se tratar de caça. A solução encontrada foi à eliminação dos nativos que se opusessem aos interesses dos colonizadores, pela força, morte ou rendição.
Os indígenas reagiram o que deflagrou o conflito que ficou conhecido como a Guerra dos Bárbaros ou Guerra do Açu no final do século XVII e que se prolongou até a década de 20 do século XVIII. Foi aí onde os últimos pegas da nossa região ou foram mortos, capturados, aldeados ou fugiram.

“A Guerra dos Bárbaros teve seu início no ano de 1683, sendo o seu epicentro a Capitania do Rio Grande. Como conseqüência de tal guerra, milhares de tapuias foram degolados, suas mulheres e crianças tornadas prisioneiras....... Outros milhares abrigaram-se junto as missões religiosas, escapando à morte ou à escravidão. Os que puderam, fugiram para o Piauí e Maranhão”. (MEDEIROS FILHO, 2003, P. 56).

Os últimos Pegas ficaram na Aldeia da Serra de Ibiapaba, em Viçosa no Ceará. Aldeia da Campina Grande na atual cidade de Campina Grande, na Paraíba. Aldeia dos Pegas que corresponde hoje ao município de Pombal na Paraíba. Aldeia Sant’Ana do Mipibu, atual São José do Mipibu no Rio Grande do Norte e na Missão dos Pegas localizadas na Serra de João do Vale no atual município de Belém do Brejo do Cruz na Paraíba.
Deste modo, após uma intensa miscigenação, os últimos Pegas vão desaparecer do nosso estado. Em 2000, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou a presença de 3168 Índios no Rio Grande do Norte. Em Upanema, quatro pessoas se declararam índios. (Censo 2000 – IBGE).
É a partir deste momento, segunda metade do século XVIII, que os primeiros homens brancos começaram a se fixar de forma mais fácil e gradual em nossa região, pois, não existia mais o índio bravio para impedi-los.
Em Upanema não foram encontrados vestígios indígenas de grande importância, mas alguns locais de possíveis passagens dos índios ainda precisam serem melhor estudados, como os sítios Riacho Fundo, Umarí e Santa Maria.
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TÍTULO: DOIS ALCOÓLATRAS CONVICTOS
Autor: Antonio Evaldo Wanderley Rocha
APRESENTAÇÃO
O leitor terá a oportunidade de ler mais um trabalho literário do estudante Antonio Evaldo Wanderley Rocha. Seu primeiro cordel foi “Homenagem ao pai”, cujo conteúdo é o relato da história da bravura do velho José Severino da Rocha (pai) que nada temia e por isso enfrentou de uma só vez seis homens que zombavam dele pelo fato de ser mudo.
“Dois alcoólatras convictos” relata a história de “Bafo de Cachaça” e “Suor de Cana”, João e Pedro, respectivamente. Ganharam estes apelidos pela razão de viverem “fora do ar” constantemente e arrotarem a “malvada” a todo instante.
O texto é de fácil compreensão e termina com a trajetória final dos protagonistas da história e uma lição moral acerca do uso abusivo do álcool.

Francisco Xavier Gondim - Professor de Língua Portuguesa da Escola Estadual “José Calazans Freire”.
Caro leitor nordestino
É grande a satisfação
Que embrulha o intestino
Solta no peito o coração.

Enche a barriga de alegria
Caem as lágrimas de emoção
Por que vou contar a história
Dos cabras lá do sertão.

Feios pela genética
Medrosos de natureza
Alcoólatras por faltar ética
Discípulos da pobreza.

João “Bafo de Cachaça”
E Pedro “Suor de Cana”
Viviam na desgraça
Da sociedade mundana.

Me bate um calafrio
Ao falar destes “malditos”
Pois escapei por um fio
Do causo aqui descrito.

Bafo de Cachaça fazia
De tudo pra beber
Até as cuecas vendia
Preste atenção, vou dizer.

Que do suor de cana
Também não posso esquecer
Faltando ficava de cama
Chorando feito um bebê.

Vou falar num instante
Que João até parecia
Um alambique ambulante
Escute o que ele fazia.

Arrotava cachaça enlatada
Isto ninguém merecia
Bufava cana engarrafada
Maldito o ar poluía.

O desgraçado do Pedro
Não ficava para trás
Chegava botava medo
Pois ele era capaz.

Suava pura caninha
Um odor de satanás
Pitu em forma de gotinha
Mijava aquele rapaz.

Quando passavam na rua
Causavam muita aflição
Ninguém riscava fósforo
O cigarro aceso na mão.

Amassavam depois engoliam
Com medo de uma explosão
Temidos mais que Bin Laden
Viva, viva o Afeganistão!

Bafo e suor de cana
Eram pobres de lascar
Não tinham nenhum real
Bebiam sem nada pagar.

Passavam o dia bebendo
A noite lá no “Spar”
Vendo o sol nascer quadrado
Com uma ressaca de matar.

Certo dia da semana
Na churrascaria Encanto
Bebia cerveja e cana
Também nunca foi santo.

Quando chegaram o dois
Pedindo uma ao gerente
Que disse: voltem depois
Daqui sete anos pra frente.

Saíram tão perturbados
Sem ter o que tomar
Como “Teixeira do Rádio”
E ouvindo “Amado” cantar.

Então João olhou para Pedro
Dizendo vamos agora apelar
Um cochichando para o outro
Nada mais pude escutar.

Saí correndo apertado
Imprensando o cabeção
Deixei os dois pares sentados
Pedro a falar com João.

Nós vamos é pra cadeia
Esse assalto não dá certo
Calma, que tenho uma idéia
Calma, que o plano é perfeito.

João, não temos nada
Nem armas e nem capuz
Já me sinto na cela apertada
Comendo só mortadela e cuscuz.

Pedro, faça o que digo
Deixe de aperreio, abestado!
Pois tenho aqui comigo
Um par de trinta e oito zerado.

Ora João não esconda, me diga
Desde quando anda armado
Não tens um centavo pra pinga
De onde roubou os zerados?

Isto não lhe interessa
Você quer ou não quer beber?
“Havia”, que estou com pressa
Se eu não beber vou morrer.

Pedro, vai lá pra fora
Que eu vou a luz apagar
Eu grito quando for hora
Pra janela tu pular.

Com essa lanterna na mão
Tu vai entrar e acender
Na cara do gerente bufão
Que não irá nos reconhecer.

Enquanto isto eu estava
Relaxando no banheiro
Sem fila, sem pressa ficava
Toda a cerveja do joelho.

Mas o desgraçado do João
Apagou foi a chave geral
E eu naquela escuridão
Já tava passando mal.

Foi quando então começou
Ouvi um grito lá de fora
Isto é um assalto, doutor
Passe tudo e sem demora.

E eu que fui ao banheiro
A fim então de mijar
O medo é tão traiçoeiro
Que a necessidade vem já.

Quando pensei em tirar
Já não havia mais tempo
Pois a minha roupa
Estava repleta de excremento.

E eu já encabulado
Barruei no zelador
Lembrei do meu estado
Saí correndo pelo corredor.

Abri a porta errada
Fui parar lá no porão
Desci rolando na escada
E meti a cara no chão.

Estava eu desmaiado
E o assalto corria à tona
João muito bem armado
Gritava passe a cana!

Cana! Vamos roubar é cachaça?
Pensei que fosse dinheiro
Já estava vendo até Graça
Comigo lá no estrangeiro.

Graça é quenga e não presta
Pegue logo esta pitu
Coloque dez litros na cueca
E corre pra Baixa de Tatu.

Estás confundindo, amigão
Eu nem sou deputado
Nem sei o que é mensalão
Tu estás é precipitado.

Olha, o cuecão não é meu
E vou logo lhe avisando
Nunca vi dólar, amigo meu
Por que estás me acusando?

Largue de ser burro, jumento
Deixe de falar besteira
E pare de tremer um momento
Sente aqui nesta cadeira.

De tanto tu resmungar
Estou é ficando rouco
Você não pára de suar
Eu vou já é ficar louco!

Coloque logo a cachaça
Em cima deste balcão
Levante e pegue a caixa
Leve a lanterna na mão.

Porque se ele se mexer
O mando lá pro inferno
Vais visitar pode crer
Lampião, o “eterno”.

De onde João tirou, rapaz
Tanta coragem assim?
Está se mostrando capaz
Um cara mau, muito ruim.

Mas foi por pouco tempo
O gerente começou a falar
Esta catinga eu me lembro
Este fedor de matar.

Está generalizado
Já sei, é Pedro e João
Ah! malditos desgraçados
Quase me matam do coração.

João tremia, coitado
E Pedro afoito gritou
Atire neste safado
Em mim não – o zelador.

Que acendeu uma lanterna
Bem na cara de João
Poderia atirar-lhe na perna
Mas riu com a situação.

João estava parado
Acredite se quiser
Ele nem estava armado
Chorava feito mulher.

Pois os três oitões zerados
Eram duas havaianas
De número 38 e roubado
De sua irmã, dona Ana.

Nesta hora Pedro e João
Meteram o pé na carreira
Naquela grande escuridão
O que foi de mesa e cadeira.

Foram parar lá na rua
Os dois levaram no peito
E no clarão da rua
O gerente virou prefeito.

Chamou logo a polícia
E disse: cana neles
Não quero ver malícia
Corte a alimentação deles.

Cana, sim! Quero muito
Cinco litros só pra mim
João, jamais seremos defuntos
Vamos beber até que enfim.

Pedro cale essa boca
Você só fala besteira
Tu tens é a cabeça oca
Nós vamos é pra cadeia.

E eu acordei no hospital
Só soube porque me contaram
E desde que passei mal
Nem bebi quando pagaram.

Acredita se eu lhe disser
Que tudo que me aconteceu
Foi praga da minha mulher
Desde que ele morreu.

Nada mais aconteceu
Também não vi Pedro e João
Só soube que viajaram
Após saírem da prisão.

Caro amigo meu e leitor
Escutem com atenção
O álcool em excesso é causador
De dependência química, irmão.

Por isso escute o que digo
Beba com moderação
E viva bem, meu amigo
Com paz e amor no coração.
Antonio Evaldo da Rocha é filho de José Severino da Rocha e Luzia Lúcia Leal. É Natural de Campo Grande, tendo nascido no dia 24 de fevereiro de 1980. Concluiu o Ensino Médio pela Escola Estadual “José Calazans Freire”, em Upanema -RN e pretende prosseguir nos estudos e cursar a faculdade de Letras. É desportista defendendo o gol.
Esta faz parte das muitas histórias que ele conhece. E não parará por aqui. Avante, Evaldo!
FICHA:
TÍTULO: Dois alcoólatras convictos
AUTOR: Antonio Evaldo Wanderley Rocha
TEMA: uso abusivo de bebidas alcoólicas
DATAS: Composição dos versos: 2005. Publicação: 2006
EDITOR: Jornal de Upanema
COORDENAÇÃO DO PROJETO: Antonio Eudes B. e Silva Júnior
ESTROFES: 60
TIRAGEM: 500 exemplares.
REVISÃO E APRESENTAÇÃO: Francisco Xavier Gondim.
APOIOS:
SECRETÁRIO GILVANDRO FERNANDES
UPANEMA.BLOGSPOT.COM
JORNAL DE UPANEMA
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CEMITÉRIOS EM UPANEMA

A evolução da pesquisa histórica sobre os cemitérios aqui em Upanema tem tido dificuldades, visto que as pessoas vivas desconhecem datas, fatos e detalhes sobre o assunto.Há, basicamente, três locais de cemitérios a ser pesquisados: o primeiro que vamos descrever é certamente o primeiro cemitério da cidade, quando ainda esta era dependente de Campo Grande. O seu local era por trás da Avenida Getulio Vargas, nas proximidades de “Jerônimo Variedades” e “Panificadora Dois Irmãos”, no centro da cidade. O ano de construção deve ter sido no fim do século XIX para o começo do século XX. As pessoas com quem conversamos só se lembram bem da quadra de esporte que foi construída no local deste velho cemitério.O atual cemitério, localizado na Rua José Lopes, bairro Pêgas, foi construído ainda quando Upanema pertencia ao município de Campo Grande, na década de 30.Na primeira administração de Luiz Cândido Bezerra (31.01.1970 a 30.01.1973) ele fez uma importante reforma, aumentando a parte onde está a “casinha das velas”, ampliando o local.No seu segundo mandato (1983-1986) – mandato abreviado por causa do seu falecimento - o prefeito Luiz Cândido Bezerra realizou uma pintura.Em 1986, o prefeito Antonio Targino (assumindo o cargo por causa do falecimento do titular) iluminou-o, fez a passarela e pintou todo o cemitério outra vez.Em 2003, o prefeito Jorge Luiz mudou o visual da pintura das paredes e construiu a “Praça da Saudade”, facilitando ao povo aproximação do mesmo, além de denominá-lo de “Morada da Paz”.Há um outro cemitério que faz parte da história upanemense, construído por particulares, isto é, um cemitério não-oficial. Segundo alguns populares, a família Gonçalves resolveu enterrar seus mortos em outro local, vindo a construir um cemitério só pra eles. A separação até hoje é comentada como um ato de vaidade por parte deles, visto que se constitui num apartheid dos mortos: os pobres seriam sepultados no cemitério público e os ricos, no “Cemitério dos Gonçalves”, como ficou conhecido. Hoje ainda podemos ver os escombros nas imediações do estádio “Freirão”, no bairro Pêgas.
Fonte: Blog de Xavier
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PRIMEIRA CASA DE UPANEMA


Conhecida também pela “Casa de seu Luizinho” foi provavelmente a primeira construção erguida com tijolo cozido e barro da localidade. Construída na antiga Rua da Palha hoje Salviano Florêncio e apelidada carinhosamente de Rua Velha, estava posicionada na parte mais elevada da rua e de frente para o poente. Seguindo padrões da época não havia recursos de pilastra, laje ou concreto simples e armado. Os tijolos eram “sentados” em duplas e muito grandes. Nas soleiras das portas e janelas colocava-se como sustentação madeira. A cumeeira bastante elevada tinha a finalidade de resfriar o ambiente. Internamente as divisões dos quartos e salas eram feitas por paredes que não chegavam até o teto por ser completado por madeira que facilitava a circulação do ar. Há relatos de que sua construção foi realizada entre 1895 a 1900 e que deva ter sido construída por alguns destes pedreiros: João Afonso, João Golberto, Manoel Tertuliano, e Chico Agostinho que ficaram famosos por fazerem parte dos pedreiros que erguerem a igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição em tijolo. Antes era de taipa e coberta com palha. Acredita-se que Joaquim Bezerra foi seu primeiro dono, homem de atitudes enérgicas, era casado com uma irmã de D. Nazaré que era esposa de seu Luizinho último morador da casa.
Durante muitos anos a casa de seu Luizinho, como era conhecida, foi referencial para os feirantes e estudantes dos sítios, pois a sua “latada” servia de sombra para amarrarem seus animais após a travessia do rio vindo dos sítios da região.
Devido infiltrações e o cupim ter atacado a madeira, no final da década de oitenta, como havia risco de desabamento, ao invés de reformarem a casa acharam melhor derruba-la!
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História de Upanema | by TNB ©2010