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Padre Adelino, Upanema e sua cacimba em Noronha.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Augusto Maranhão, pesquisador. Publicado no Jornal Tribuna do Norte da capital do Estado no dia 20 de fevereiro de 2000.

Por volta de 1867, em um local conhecido como “Curral da Várzea”, perto do então município do Triunfo, hoje Campo Grande, o padre Francisco Adelino de Brito Dantas começou a construção de um povoado em terras doadas por fazendeiros da região. Por ter um bom clima úmido e terras férteis, esse povoamento logo atraiu a chegada de algumas famílias para fixar residência. Em seguida veio a construção da capela que foi erguida em homenagem a Nossa Senhora da Conceição e de uma rua que teve o nome de “Rua da Palha” por serem suas moradias cobertas com as palhas de carnaúbas. Assim, o povoado crescia e já tinha contornos de vila quando recebeu sua primeira escola e o nome de “Conceição de Upanema” por sugestão do próprio padre Adelino. O nome Upanema vê do rio que fica próximo e significa na linguagem dos índios, antigos habitantes da região, “água sem peixe”. A cidade hoje de Upanema foi desmembrada do município de Campo Grande em 16 de setembro de 1953 e deve ao destemido padre Adelino a sua criação.
O padre Francisco Adelino de Brito Dantas era filho do Tenente Félix José Dantas e de dona Maria Honorata e nasceu em 1825 para alguns historiadores e para outros em 1828 em Campo Grande. Sua família era enorme e tradicionalista em todos os municípios vizinhos. No dizer do mestre Cascudo, ele era falante, tinha uma força incomum e montava cavalo como ninguém, além de ser ágil como um maracajá. Porém seu destino não seria de ser fazendeiro ou militar como o pai. A igreja seria seu objetivo e assim foi nomeado padre em 23 de maio de 1851.
Já sacerdote e após fundar o município de Upanema, ele viajou para a cidade do Recife em 1870 e foi ensinar latim e francês por aquelas bandas. Na capital pernambucana o padre Adelino tomou conhecimento que o presídio de Fernando de Noronha estava com uma vaga de capelão em aberto. Ninguém gostava de ir trabalhar naquele canto isolado do oceano atlântico, principalmente por ser lá uma colônia correcional. Ele solicitou a vaga e foi nomeado pelo Conselheiro João Alfredo, a pedido do Bispo, como o novo capelão de Fernando de Noronha. Desde seu descobrimento em 1503 por Américo Vespúcio, a ilha de Fernando de Noronha sempre teve como principal problema o abastecimento de água. O padre Adelino já em plena atividade de Capelão do presídio de Fernando de Noronha e com profundo conhecimento das estiagens dos sertões potiguares, resolveu procurar o bom lugar para conseguir água e matar a sede da ilha, pois naquela época só existiam a cacimba do Atalaia, o açude do Gato e o da Horta, os quais estavam em situações de muita precariedade.
O padre Adelino, em 1888, recrutou alguns sentenciados e foi cavar perto da praia do Morro Dois Irmãos. Ali próximo também estava a capelinha da Conceição para sua reza e proteção. Os trabalhos logo começaram para se achar o precioso liquido e, aos catorze metros de profundidade, ele encontra a nascente de água potável e o “tesouro” encontrado é tido como um verdadeiro milagre, pois as águas existentes em Fernando de Noronha eram salobras e de temporadas. Ali a cacimba cavada pelo padre norte-rio-grandense Adelino e seus presos era o fim dos suplícios para os noronhenses. O aspecto cristalino da água achada era fascinante e pura, onde quase sempre era reservada aos doentes que nela depositavam suas curas. O nosso conterrâneo não viveria o suficiente para ver que sua descoberta traria vida abundante para os ilhéus por longos anos. Ele adoeceu gravemente em Fernando de Noronha e pediu dispensa do posto de Capelão do presídio e voltou para Recife e depois para a sua querida Campo Grande no oeste potiguar, onde veio a falecer em 18 de agosto de 1893.
O padre Adelino não batizou sua cacimba, mas o bom povo de Fernando de Noronha o eternizou como uma consagração natural e denominou a fonte de “Cacimba do Padre”, uma homenagem ao grande homem e sacerdote que ele foi. A água da cacimba do padre durante a segunda Guerra Mundial foi o ponto determinante de abastecimento de toda tropa que serviu no Trigésimo Batalhão de Caçadores, o conhecido “Trinta”. Apesar de terem os americanos instalados dois dessalinizadores em Fernando de Noronha, só a boa água da cacimba do Padre aliviava a sede deles. Existe ainda uma lenda noronhense de que quem sua água bebesse jamais sairia de lá e que o padre Adelino em noite de luar caminha por aquelas bandas de beleza impar protestando contra o abandono do lugar.O nosso padre Francisco Adelino de Brito Dantas, fundador da cidade de Upanema e descobridor da água pura de sua cacimba em Fernando de Noronha, é um exemplo de perfil a ser reverenciado e lembrado em nossos quatrocentos anos.

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